terça-feira, agosto 03, 2004

Distâncias

Diferença de idade;
Diferença de classe social;
Diferença de cultura, de religião, de gostos;
Distância geográfica.

Listei algumas das justificativas para o fim de um amor. Relendo a lista, lembrei aquele termo jurídico: incompatibilidade irreconciliável de gênios. Para mim é redundância. Se for incompatível, não tem como conciliar. Alguém pode me provar o contrário?

Bom, mas eu não concordo com a lista acima. Porque eu já vivi todas essas diferenças e posso garantir que nenhuma delas me fez terminar um relacionamento. O que me fazia deixar de gostar, de querer estar perto, era a tal da incompatibilidade tão incompatível que chegava a ser irreconciliável: a diferença de posicionamento.

Vamos raciocinar juntos (você mais, que hoje eu estou com preguiça): duas pessoas de idades diferentes podem se dar bem se tiverem a mesma postura diante da vida. Se esperarem as mesmas coisas, se tiverem objetivos semelhantes. O mesmo acontece com os casais que vieram de classes sociais diferentes, com os que têm níveis culturais diferentes, com os que moram distante um do outro.

Eu digo isso porque acredito que um relacionamento tem a função precípua de nos fazer melhores, de nos empurrar para frente – de vez em quando, caímos num buraco, mas é disto que a vida é feita: de surpresas!

Quer um exemplo? Tive um relacionamento-expresso com uma figura que até hoje assombra minhas noites insones. Ele era teoricamente perfeito: dois anos mais velho que eu, instruído, culto, financeiramente equilibrado (o que, para mim, é lenda), bonitão, tamanho standard. Um dia, resolvi levá-lo à casa de uma amiga, casada com um homem bem mais velho que ela, chiquetérrimo, um poço de classe. Tudo estava indo muito bem, até que, no meio da conversa, o celular dele toca. Tudo bem, isso acontece. Mas ele começou a falar alto, discutindo uma entrega que a empresa dele precisava fazer. Não preciso dizer que a conversa parou. Ficamos escutando a negociação de prazos, o fornecimento de informações. Depois de uns dez minutos (uma eternidade, no caso), eu cheguei perto dele e perguntei: “Não seria melhor você ir até a outra sala?”. Ao que ele respondeu: “Não, o que é isso, vocês não estão me atrapalhando”.

Tá vendo? Falta de educação, dirão alguns. Eu digo que é mais. É falta de uma postura legal diante da vida. E isso distancia. Ô...é um buraco e tanto!

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