sábado, julho 31, 2004

Mal...Mal sapão...

Rapaz bonitinho-com-jeito-de-paquito entra no Mc Donald’s de mãos dadas com moça bonitinha-com-jeito-de-paquita. Na fila pra comprar o lanche, tudo muito romantiquinho, beijinhos, biquinhos, abracinhos. Sentam pra comer e tudo continua lindinho, batatinha na boquinha da moça, ela abre o sachezinho de ketchup pra ele, um nojinho.

De repente um grito: “- Fulana! Não acredito! Há quanto tempo!”. É uma outra moça também bonitinha-com-mais-jeito-ainda-de-paquita, amiga da primeira. Depois de gritinhos histéricos de animação e reconhecimento, as duas se abraçam longamente, como se não se vissem há milênios.

Enquanto esse longuíssimo abraço acontece, rapaz bonitinho-com-jeito-de-paquito, continua sentado na mesa e aproveita a visão privilegiada para, enquanto dá uma boa mordida num Big Mac, avaliar lentamente a, digamos, “traseira” da moça que chegou. De cima para baixo. De baixo para cima. Lentamente. Levou todo o tempo do mundo pra isso, aproveitando o eterno abraço das duas, com cara de quem está imaginando Deus-sabe-lá-o-que. Eu que não quero nem saber.

Coisa feia, hein!

sexta-feira, julho 30, 2004

Não é bagunçado, não!

Sou uma pessoa que gosta de contato físico.  Gosto muito, na verdade. Isso é um fato.

Outro fato é que tenho vários amigos do sexo masculino. Uns mais próximos, outros mais distantes. Já quase não vejo alguns deles, mas continuam sendo amigos. Sabe aos oito anos de idade, quando meninos e meninas só não se estapeiam porque a “tia” tá por perto? Nessa época, já tinha amiguinhos.

Vai daí que, juntando os dois fatos, temos uma coisinha interessante: é um costume meu ter contato físico com meus amigos. Abraços, beijinhos, carinho.

Claro que isso me gera problemas. Se não gerasse, não estaria tratando do assunto aqui.

O primeiro e mais óbvio inconveniente é que isso dificulta possíveis paqueras. O cara que talvez estivesse interessado em mim vai ficar na dúvida: “ela está dando em cima daquele sujeito?”. Ou até: “será que eles são namorados?”.

Quanto a esse aspecto, nem tenho o direito de falar alguma coisa. É como ir à boate com três ou quatro amigos (meu Deus, perdi a conta de quantas vezes já fiz isso!) e achar ruim porque nenhum carinha dá em cima. Não dá pra reclamar.

Outro problema é ser julgada e rotulada como “fácil” por quem está de fora: “olha lá, tava com um carinha há cinco minutos; agora, já tá abraçada com outro”.

Francamente, estou me lixando para esse tipo de crítica. Eu sei o que sou e o que estou fazendo. As pessoas próximas a mim – as únicas que realmente importam – também sabem. O resto do mundo que tenha suas próprias opiniões.

Agora, existe uma questão que realmente me tira do sério. É que alguns sujeitos não têm o menor senso. Acham que, porque fico abraçada com Fulano ou Beltrano, fico abraçada com qualquer um. Pensam que é só ir chegando.

Calma lá! Aqui não é a casa da mãe joana, não!

Caro atrevido, você me conhece? Sabe algo além do meu primeiro nome? Nós já batemos papo? Já conversamos sobre assuntos pessoais, coisas além de “nossa, como faz frio nessa cidade”? Você pode me dizer verdades e brincar comigo sem submeter-se à possibilidade de eu nunca mais lhe dirigir a palavra?

Se a sua resposta foi “não” a qualquer uma dessas perguntas, fique na sua.

Contato físico é coisa que tenho apenas com amigos, entendeu?

E nem é com todo amigo. Coloquemos assim: todas as pessoas com quem tenho esse tipo de contato são pessoas de quem gosto; mas não sou de ficar abraçada com todo mundo de que gosto. Coisa de personalidade, jeito, temperamento. Ou o que quer que seja.

Outra coisa: antigüidade, nesse caso, não é posto. Tem gente que conheço de longa data, e não tem esse tipo de apoximação.

Em resumo: não é só ir chegando. Existem regras. Minhas regras.

E tenho dito.

Te mete!!!

Hehehe...

Hohoho...

Hihihi...

Propaganda linda e gratuita no blog DELE.

ELE que é o número um na lista da mulherada.

ELE que povoa os sonhos até mesmo da mais recatada das mulheres.

Obrigada CANALHINHA
querido!

quinta-feira, julho 29, 2004

Admitindo erros...

Certa feita (isso há muuuitos anos atrás), conheci um rapaz. Vamos chamá-lo aqui de “rapaz-com-cara-de-bonzinho”. Ele era simpático, bonito, educado e trabalhador. E tinha cara de bonzinho. Primeiro da fila na lista de todas as sogras. Na minha lista também. Até que finalmente conseguimos combinar de sair.

No dia marcado, o tal rapaz-com-cara-de-bonzinho me liga e diz: “- Hoje preparei uma noite especial pra nós dois. Vamos pra uma adega bem aconchegante, apreciar uma bela tábua de queijos e um bom vinho.”

Ui! Romântico o menino, hein! Só um pequeno probleminha: Não bebo vinho e queijo, pra mim, só existe em 4 tipos – aqueles que vem na pizza. Mas e eu lá ia estragar a nossa noite romântica? Ainda não estava maluca né? Lá fomos nós...

Vocês já podem visualizar, mais ou menos, o estado em que esta pessoinha se encontrava lá pelas tantas da madrugada... Bebi vinho como se fosse água, tapando o nariz, e comi todos aqueles queijos multicores que estavam na tábua. Até os mais verdes! Resultado: saí da tal adega tropeçando nas próprias pernas e completamente enjoada, educadamente amparada pelo rapaz-com-cara-de-bonzinho. Até aí tudo bem. Porém...

Os tais queijos começaram a fazer uma revolução no meu estômago. Parecia que ia sair um alien de dentro da minha barriga. Tudo rodava que era uma beleza e eu estava prestes a passar mal dentro do carro último modelo e cheirando-a-novo do rapaz-com-cara-de-bonzinho.

Quando avisei que ia passar mal ele parou no acostamento e veio, todo solícito, segurar a minha testa. Ah, sim, obrigada, tudo o que eu queria... Até chegar em casa passei mal mais umas 4 vezes. Todas devidamente amparadas pelo rapaz com cara de bonzinho. Chegando lá, mal me despedi, saí correndo pra casa e desmaiei na minha cama, de roupa e tudo.

No dia seguinte, o castigo: uma puuuuuuta ressaca, a cabeça pesando 130 Kg, aquele bafo-de-onça-sabor-queijo-não-identificado e minha mãe sentada no pé da minha cama morrendo de rir da história toda. Ela me disse que ele tinha sido uma gracinha, educado e atencioso comigo. Eu, ao contrário, queria desaparecer e nunca mais olhar pra cara do rapaz. Com certeza ele também estaria pensando o mesmo de mim.

Mas qual não foi a minha surpresa quando toca o telefone e minha mãe, toda serelepe, anuncia: “- É ele!”. Aiaiaiaiai... Atendi ao telefone bastante sem graça. Ele perguntou se eu estava melhor, como eu estava me sentindo e tal. Eu falei que estava bem e pedi desculpas pelo vexame da noite passada. Foi aí que ele mandou a pérola: “- Mas sabe que até vomitando você é uma gracinha?”
 
Acho que nem preciso dizer que eu nunca mais atendi aos telefonemas do rapaz . Fiquei assustada né? Tá certo, ele foi educado, eu devia ter deixado passar, mas isso é coisa que se diga? Eu sei, eu sei, eu errei, desde o princípio, quando não falei do vinho e dos queijos. Errei quando dispensei o rapaz apenas porque ele foi educado e bonzinho demaaaaaisss. Pelo menos estou aqui admitindo que fiquei assustada e errei!

Mas não me arrependo não. Depois que eu parei de atender os telefonemas do rapaz-com-cara-de-bonzinho, ele ficou bastante chateado. A ponto de começar a espalhar pra vários conhecidos nossos que não queria mais sair comigo porque já tinha conseguido o que queria. E nem tinha gostado muito... Rapaz-com-cara-de-bonzinho acabou virando rapaz-com-cara-de-idiota pra mim... Será que um dia ele também vai admitir que errou?

terça-feira, julho 27, 2004

Assunto não vai faltar

Primeiro, o pai. Muito carinho e mimo. A mãe diz que não. Papai diz “pode, sim”. A gente se derrete.

Aí, aparecem os coleguinhas da escola. Brigas, disputas, clubinhos menina-não-entra, perseguições com bichos asquerosos. Eles sentem prazer em irritar. A gente não entende como podem ser tão chatos.

Mais tarde, o professor. Admiração e suspiros – que menina nunca teve uma quedinha por aquele professor charmoso e tão inteligente?

Ah, sabe aqueles moleques chatos? Pois é, cresceram. Agora, ao invés de correrem atrás da gente com lagartixa morta, correm atrás de um beijo. Enquanto isso, já arrastamos asa pros carinhas da faculdade, tão “adultos” aos nossos olhos adolescentes.

E por aí vai. As primeiras paqueras, o primeiro beijo, os amassos, o fora, as lágrimas, tudo de novo, o frio no estômago, o irmão ciumento, será-que-ele-vai-ligar-amanhã, o melhor amigo gay, toneladas de inseguranças, o amor-pra-toda-vida que acaba, o rolinho de fim-de-semana, o chato, o bom de cama, o namorado da amiga que atrapalha a amizade, o pegajoso, o vamos-ser-apenas-amigos...

Não dá pra evitar. Eles permeiam toda a nossa vida. São fonte constante de aflições, angústias, tristezas. E também de alegrias, momentos de cumplicidade, horas que deveriam ser eternas de tão boas.

O que seria da nossa vida sem os homens? Mais calminha? Talvez. Certamente, seria muito mais sem graça.

Uma amostra...

Pois é pessoas...

Depois de muito suor e lágrimas (nada de sangue senão eu desmaio) ficou pronto o nosso espaço.

Pra que a gente possa falar DELES.

E olha que a gente PODE e DEVE falar DELES.

Eu mesma cresci num mundinho cheio DELES. Irmãos, amigos, chefes, namorados, marido (ex), etc...

A Fabby (viu lá embaixo?) resolveu falar do papi. A Lu deve aparecer com alguma surpresa boa por aí. E eu, por enquanto, vou ser mais genérica...

Apenas um aviso aos rapazes: esse não é mais um blog feminista e não vamos passar dia e noite metendo o pau em vocês (a não ser que vocês mereçam, claro).

Temos um olhar esperançoso para a relação entre homens e mulheres. Por isso estamos aqui. Para aprender, para ensinar (quem sabe?), para mostrar que tudo o que acontece entre nós, acontece todos os dias, com todas as mulheres e todos os homens do mundo.

Pra mostrar o que é bom de continuar acontecendo. Pra mostrar o que não é tão bom e poderia melhorar...

Pretensão nossa? Pode até ser... E por que não?

Doces Lembranças

Interessante essa questão da memória. Memória emocional, seletiva, eu quero dizer. Há dias, semanas, meses inteiros em que eu experimentei sensações muito boas, em que eu me diverti muito, mas dos quais eu não guardo a mínima lembrança. Mas, para contrabalançar, guardo de coração alguns momentos, alguns segundos, gestos, olhares...

Lembro uma noite, já eram umas nove horas, eu ainda estava no trabalho, diante da tela do micro, sem coragem de voltar para casa. Tudo por causa de um homem. Diante de mim, a tela com alguma notícia, da qual eu não me recordo e, sobre a mesa, o resultado de um exame. Eu estava me sentindo paralisada, como se fosse personagem de um autor que, de repente, sofre de uma ausência de criatividade. Não havia na minha cabeça a idéia da próxima fala, do próximo movimento.

O resultado daquele exame já era esperado há tempos. E como foi adiado! Como foi discutido, brigado, gritado, calado, sussurrado...o exame era do meu pai. E o resultado dizia que ele tem uma atrofia cerebelar. Não vou falar desse problema porque ele não é o motivador, o fim das coisas. Nenhuma doença é. Os problemas de saúde são pontos de partida.

Vou falar do meu pai. Sempre escutei histórias das minhas amigas sobre as coisas que os pais faziam para elas. Presentes, surpresas, domingos no parque, no clube. Meu pai nunca foi assim. Sim, ele dava presentes, sim, ele nos levava ao clube, ao parque. Mas nunca se permitiu realmente nos acompanhar. Nós é que o acompanhávamos. Talvez porque a minha mãe sempre tenha sido ultraprotetora e, aí, não sobrava muito espaço para ele. Talvez porque não houvesse essa vontade nele, o que eu acredito ser mais provável. Os primeiros pedaço sempre eram para ele. Os melhores bombons. Os nossos silêncios. Um dia, na escola, tive que fazer uma redação sobre o que aprendi com o meu pai. Fiquei meio sem saber o que escrever, mas depois me veio a verdade que trago no meu coração até hoje. Meu pai me ensinou a não esperar nada de ninguém. A lutar pelo que eu queria sozinha. A acreditar no meu potencial.

Então, vieram os primeiros sintomas. As alterações de humor, os esquecimentos, o falar sozinho, os delírios. E ele virou uma criança. Ia trabalhar, tinha todas as atividades normais de um adulto, mas em casa era uma criança. E foi difícil aceitar isso. Porque um pai deveria proteger, e não ser protegido. Deveria apoiar, e não precisar de apoio. Mas deixei falar mais alto o que eu havia aprendido com ele há anos: não esperar nada. Amá-lo. Simplesmente.

Um dia, ele esqueceu quem eu era. Ficou desconfiado, perguntou quem era aquela moça que estava dentro da nossa casa. Eu chorei muito. Mas decidi continuar o exercício de amá-lo, sem esperar nada. Eu o levava à hidroterapia, ajoelhava para calçar as sandálias dele, secava e penteava o cabelo dele, escutava as suas histórias, de que era o melhor da turma, de que tinha melhorado muito, sempre fazendo esforço para entender aquela voz enrolada.

E ele melhorou. Não 100%, é lógico, mas melhorou. E, no dia em que descobri que tenho um tumor na hipófise, fui comunicar à minha família. Falei brincando, tentando não dar uma importância maior do que era preciso. E o meu pai chorou. E disse: "Filha, você me ajudou tanto quando eu estava ruim. Fico triste por pensar que não posso ajudar você agora". E estava ali. Todo o retorno que eu esperei dele. Ele sabia, tinha consciência de que eu o havia ajudado. Era mais do que eu poderia esperar.