segunda-feira, agosto 02, 2004

Crise, que crise?

A maioria das minhas amigas encontra-se no seguinte estado civil: Solteira Procurando. Elas reclamam muito da tal da crise afetiva, que o negócio tá feio, que anda difícil encontrar um cara legal ou levar um relacionamento decente, com compromisso, honestidade e coisa e tal. Mas isso não é exclusividade feminina. Meus amigos solteiros andam reclamando do mesmo jeito.

Lembrei que, há muito tempo atrás, eu estagiava na Defensoria Pública de Sobradinho, cidade aqui do Distrito Federal. A maioria da população lá é de baixa renda e uma boa parte é pobre-pobre-pobre-de-marre-de-si.

Num dia de plantão na defensoria, eu e duas amigas comentávamos sobre essa mesma crise (essa, da falta de homens/mulheres, da falta de compromisso, de relacionamentos decentes), quando o promotor de justiça, que por sinal era um dos nossos professores mais legais, apresentou sua tese sobre o assunto. Ele disse:

"- Meninas, essa crise só existe em determinadas classes sociais. Existe pra nós, pra mim, para os meus amigos, pra vocês, para as suas amigas. Mas se vocês repararem bem, não existe, por exemplo, para pessoas como as que vocês atendem diariamente aqui na defensoria. Pras pessoas pobres não existe essa crise afetiva. Acho que elas têm mais com o que se preocupar.”

Parei pra pensar. Realmente, ele tinha razão. Na defensoria, todos os dias, mas todos os dias, sem exceção, escutávamos as mesmas histórias. Maria foi morar com João, mas também namorava José. José largou de Maria e já estava indo morar junto com Ana. João, por sua vez, já namorava Lucia, que tinha 4 filhos, de 4 maridos diferentes e estava grávida de Marcos. Marcos era casado com Silvia, mas já tinha vivido com Ana. Se alguém ia lá dar entrada num divórcio, podem acreditar: já existia outro na jogada.

E era assim mesmo. As pessoas se separavam, casavam, namoravam e procriavam com uma facilidade imensa. Crise afetiva? Que nada! Podiam não ter grana, bens ou uma qualidade de vida considerada razoável, mas crise afetiva? Nunca vi ninguém reclamar da solidão, da falta de homens/mulheres, da ausência de compromisso entre as pessoas.

Meu querido professor estava certo. Embora eu não veja nenhuma lógica no raciocínio, na prática ele era correto. Alguém, por favor, sabe me explicar o por quê?

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