quinta-feira, junho 09, 2005

E daí?

Feliz é a Beatriz. Enquanto admira sua nova cobertura no Sudoeste, decorada por Filinto Madureira, o novo darling do who's who do Planalto, pensa nas possibilidades que a tarde lhe oferece.

Uma volta pelo shopping, talvez, para conferir as novidades daquelas lojinhas exclusivas, onde uma camiseta de malha 100% algodão, com aparência de quem acabou de ser cuspida por uma jibóia, custa a módica quantia de R$500,00...

Hummm... quem sabe uma chegadinha ao salão das estrelas, para retocar as unhas de 5cm com esmalte cor de berinjela... afinal, já não vai ao salão há dois dias...

Enquanto não decide, pega uma das revistas que a Isolina, sua personal assistant, deixou sobre a coffee table daquele designer muito famoso, cujo nome ela não lembra nem a pau.

Lá pela página 35, uma foto chama a sua (dela) atenção. Beatriz reconhece Lucília, sua colega de Obcursos, da época em que cometia desvarios como se inscrever em concursos públicos e passar noites a fio estudando Direito Constitucional.

Alguma coisa estava errada naquela foto... Lucília era a típica CDF. Seu destino era se tornar uma dessas servidoras públicas com maquiagem de mais e elegância de menos. Solteirona, encalhada, na verdade. Hobbies: assistir à televisão e caminhar no Parque da Cidade nas manhãs de domingo.

À medida que os olhos de Beatriz seguiam as letras da reportagem, nascia uma Lucília totalmente diferente, empresária bem sucedida, ativista social, casada com, nas palavras da repórter, "um modelo de perfeição masculina". Hobbies: snowboard e mergulho.

Sentindo a escova progressiva se arrepiar, Beatriz esquadrinhou a foto enorme. Pele de porcelana, usando um Raya De Goeye m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o, corpitcho em dia, sem sinais de silicone ou de lipo (mas isso é fácil de esconder). E os sapatos? Manolo Blahnik, com certeza...

Por que ninguém lhe dissera que dava para ter tudo? Isso, é claro, antes de ela cansar do modelito "moça-moderna-trabalhora-independente" e ceder aos apelos do Neto, pessoa de grande influência na Corte, que precisava de uma fachada para a sua orientação sexual diferente...

Dava para ser mulherzinha e mulherão, tudo ao mesmo tempo agora? Bom, agora era tarde... e ela não ia ficar pensando nisso... se pensasse, franziria a testa e arruinaria a bioplastia que fez no mês passado...

Apanhando sua bolsa Gucci, saiu para a vida, tal qual uma Scarlet O'Hara dos tempos modernos: "Vou deixar para pensar nisso amanhã".

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