segunda-feira, maio 16, 2005

O que é o amor...

Entram na minha sala o cliente, sua mãe e sua tia.

Ele mesmo não fala nada. Mas a mãe e a tia falam. E como!

"E aquela vagabundazinha vivia chifrando ele, sabe doutora, aquelazinha nunca valeu nada mesmo". Elas sempre souberam. Mas ele, cego de amor, casou do mesmo jeito. Ficou contra a mãe. E durante o tempo de casados elas pegaram aquela "uma" com outros homens, várias vezes. No flagra! Mas ele nunca acreditou na mãe e na tia. E acabou se distanciando da família, por causa "daquela".

Até o dia em que ele finalmente pegou. Na casa deles. Na cama deles. Com outro homem.

No mesmo instante eu percebi que o flagra fora armado pela mãe que, juntamente com dois policiais, um vigilante da rua e ele, entraram na casa atrás de um "suposto assaltante". E agora "aquela vadiazinha" ia ter o que merecia.

Que eu ia ter que limpá-la, de qualquer jeito. "Nada de casa, carro, mesada, nada, viu doutora?" Ela tinha que perder tudo. Ela tinha que pagar pelo que fez com o filhinho dela. Com o sobrinho querido.

E ele mesmo não falou nada. Até hoje, no meio do processo ele fala muito pouco. No início eu imaginei que fosse a vergonha. A humilhação. A decepção. Que tudo fosse demais pra ele.

Agora eu soube que não.

Que ele ainda liga pra ela. Diz que a ama e que queria muito voltar. Promete que eles vão morar longe da mãe dele. Longe da família dele.

Mas na frente da mãe e da tia ele fica mudo. E o processo segue.

E, pela primeira vez, que não sei como isso vai terminar...

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