sexta-feira, novembro 26, 2004

Vai caiiiirrrr...

É fato que existe um problema de comunicação entre homens e mulheres. Mas quero contribuir com uma nova teoria sobre o assunto. O ó do borogodó é que a comunicação existe, sim, mas falha nos momentos mais importantes. É como se estivéssemos falando ao celular e nossa vida estivesse cheia de túneis. Ou, como acontece com muita freqüência, fingimos que estamos entrando em um túnel só para poder interromper a ligação...

– Jorge Augusto, eu vou embora!
– Hãnhãn...
– Jorge Augusto, você escutou o que eu disse? Eu já vou!
– Hãnhãn...
– Para sempre, Jorge Augusto, não volto mais...
– Hãnhãn...
– Estou levando minha mala. E não vou para a casa da mamãe. Não digo para onde vou.
– Hãnhãn...
– Já estou no meio da sala, Jorge Augusto. Você vai continuar olhando para a televisão?
– Hãnhãn...
– Minha mão já está na maçaneta, Jorge Augusto. Já dei a primeira volta na chave...
– Hãnhãn...
– Já abri a porta, Jorge Augusto. Se eu colocar um pé para fora deste apartamento, não volto mais...
– Hãnhãn...
– Jorge Augusto, você está me ouvindo?
– Hãnhãn...
– Tudo bem, já foi um pé. Se eu colocar o outro, aí acabou!
– Hãnhãn...
– A-C-A-B-O-U, Jorge Augusto, do verbo "não existe mais", pretérito, passado...
– Hãnhãn...
– Você sempre foi fraco em português, né? Como eu vou explicar isso para as minhas amigas? "Meu casamento acabou, fulana, porque o meu marido não sabe interpretar os meus textos..." Que absurdo, Jorge Augusto!
– Hãnhãn...
– Tchau, adios, bye...
– Hãnhãn...

Barulho da porta fechando

Porta abrindo devagar

– Falou alguma coisa, Jorge Augusto?
– Ãhn?
– Quer conversar, discutir a relação?
– Posso pedir uma coisa?
– Claro...
– Traz pão quando você voltar?

Estrondo da porta batendo.

Porta abrindo.

– Francês?
– Hãnhãn...

quinta-feira, novembro 18, 2004

Nada é como deveria ser

Você é uma mulher de 29 anos. Bonita, simpática, não tem uma inteligência lá muito acima da média, mas dá pro gasto. Formada, mora sozinha, tem um cargo público e um salário excelente. Tem grana pra gastar e gosta de balada.

Ele é um menino ainda. 21 anos, bonito, engraçado, cheio da lábia. É de uma família boa mas faz uma faculdade tabajara, só pros pais não encherem o saco. Playboy, gosta de coisas caras, mas trabalha de estagiário pra descolar o do chopinho de fim de semana. Filhinho de mamãe e está de olho em você.

Vocês ficam. Foi bom. Ficam de novo. Começam a namorar. As amigas já estranham pela diferença de idade. Além disso, é um moleque, não trabalha, nem sabe o que quer da vida. Você nem aí. Apaixonou-se.

Isso aconteceu há 6 anos atrás. Hoje vocês continuam namorando.

Tiveram uma linda filha. E continuam namorando.

Fizeram 6 anos juntos. E continuam namorando.

Ele vive dormindo na sua casa. E continuam namorando.

Ele já se formou na faculdade e trabalha com o pai, já estabelecido no mercado. E continuam namorando.

Ele já te chifrou e você sabe disso. E continuam namorando.

Você ganha muuuito melhor do que ele e sustenta seus luxos, viagens de férias e presentes. E continuam namorando.

Você está com 35 anos. Ele com 27. E continuam namorando.

Ele não gosta mais de balada, manda você calar a boca e te chama de burra na frente dos amigos. E continuam namorando.

A mãe dele acha que manda em você. E continuam namorando.

Todo mundo fala que ele não te ama, só te usa. E continuam namorando.

...

Falei lá em cima que sua inteligência não é lá muito acima da média?

Enganei-me... Não há vida inteligente dentro desse seu corpo...


P.S.: Como todas as que conto aqui, essa é mais uma história verídica...

sexta-feira, novembro 12, 2004

Um golpe de mestre

Eu gosto de compartilhar essa passagem da minha vida porque é uma chance que tenho de ser didática. Presta bem atenção, e depois me conta se anta não tem mais é que pastar mesmo...

A historinha é sobre um triângulo amoroso e odioso. E sobre a engenhosidade de um "figura".

Eles namoravam. Eu cheguei depois ao contexto. E eles pararam de namorar. Aí, eu e ele namoramos. Mas ela era ciumenta, daquelas barraqueiras mesmo, sacumé? E eu vivi dias de personagem de Nelson Rodrigues, sendo chamada de "bonita" para baixo. Ela me colocou em cada situação... ia para o meu prédio e ficava gritando coisas lindas para mim. Colocava faixas na entrada da quadra com o meu nome e o meu telefone, anunciando programa. Enfim, tornava a minha vida um carrossel de emoções...

Um dia, o meu namoro acabou. E eu ouvi alguém dizer que, depois de uns meses, eles estavam juntos de novo. Aí é que eu comecei a descobrir que sou um fracasso como mulher vingativa. Pensei: "Vou atormentar a perua um pouquinho". E, sabendo que ele ainda tinha uma queda por mim, fui procurá-lo. Fiquei me achando a última coca-cola do deserto, a última folha da alcachofra. Meu ódio será tua herança... minha vingança se concretizou... hehehehe...

But, como eu disse no início, anta tem mais é que pastar. O buraco era mais embaixo. Olha só a capacidade do mancebo: ele ficava comigo e dizia que estava namorando a outra. Eu, para me vingar, metia o chifre na mocinha. Só que ele dizia a mesma coisa para ela. E ela ficava feliz por me enganar. Se eu o visse com ela, beleza, eles eram namorados. Se ela o visse comigo, dava um jeito de se esconder, porque ela era a outra... e, quando ele não queria ficar com nenhuma das duas, inventava uma mentira e ficava com uma terceira...

Tudo bem, mentir não é bonito. Mas eu tiro o chapéu para ele.

quinta-feira, novembro 11, 2004

História Feliz

Eles se conheciam desde pequenos. Eram primos de algum grau por aí. Começaram a namorar com 15 anos. Toda a família aprovava o belo casalzinho. Fizeram 18 anos e todo mundo já perguntava pelo casamento. Ele, animadíssimo. Ela, nem tanto.

Ele queria uma esposa, 5 filhos, uma casa grande e um cachorro. Ela queria estudar, viajar, conhecer o mundo e curtir a vida.

Ela não sabia o que fazer. Um belo dia parou num orelhão de um shopping e ligou pra uma outra prima, amiga e confidente.

ELA: " - Ai Ana, não sei mais o que fazer..."

A PRIMA: " - Sobre?..."

ELA: " - Sobre o Mário. Eu gosto dele mas..."

De repende ela ouve uma batidinha na porta da cabine telefônica.

ELA: " - Peraí! Já tô terminando! Que pessoal apressado... Mas então, Ana, eu gosto do Mário, mas é que..."

Outra batidinha na porta da cabine.

ELA: " - Já vou! Já vou! Que coisa!"

A PRIMA - " - Mas é o que Alice?"

ELA: " - É que eu não quero casar com ele de jeito nenhum!"

Outra batida insistente na cabine.

ELA: " - Mas que coisa!!!! Quer ter paciência caramba!"

Quando ela se vira pra brigar com o insistente que não pára de bater na cabine... qual não é a sua surpresa quando vê Mário, parado do lado de fora, os ombros caídos e o semblante triste.

MÁRIO : " - Tudo bem Alice, eu já ouvi tudo, sem querer..."

Depois daquele dia, terminaram o namoro e cada um seguiu pro seu lado. Ela foi viajar. Ele também. Ela foi estudar. Ele também. Seis anos depois ela voltou para o Brasil. Ele estava por aqui.

Reencontraram-se numa reunião da igreja. Saíram depois para conversar. Ela viajara o mundo. Curtira a vida. Ele estudara bastante, crescera muito. Os pais dos dois fizeram gosto no encontro. A família já fazia planos para os dois.

E não é que deu certo mesmo?

Hoje são sócios na mesma empresa. Casados há 18 anos. Cinco filhos. Um cachorro. Uma casa enorme.

E são muito felizes.

* E essa história é verídica. Eu sei porque eu também faço parte dessa família...