quinta-feira, setembro 30, 2004

Me dá seu telefone?

Já escrevi sobre a tortura que é para as mulheres esperar o telefonema de algum rapaz. Agora vou falar sobre uma pequena maldade que todas nós mulheres, já cometemos alguma vez nessa vida: dar o telefone errado.

Por que fazemos isso? Não é tão fácil responder porque na verdade existem motivos dos mais variados. Mas em geral é porque alguns rapazes, mais os da espécie "Homens-Polvo", são tão chatos, mas tão chatos, que não sossegam enquanto não forem enganados.

Muitas e muitas vezes, ao dispensar um cara, a mulher escuta elogios como: baranga, sapatão, vadia e por aí vai. Pra nos poupar desses comentários deliciosos, ou mesmo quando a garota não tem muito jeito pra dispensar o moçoilo insistente, é batata: telefone errado.

Da mesma forma quando sabemos que aquilo não vai dar em nada, que a ficada foi boa (ou nem tanto), mas não vale a espera por um telefonema no dia seguinte, não é toda mulher que tem as caras pra dizer: "Telefone? Cai na real amigo, isso aqui foi uma noite e nada mais!"
E, convenhamos, não é todo cara que está pronto pra ouvir uma dessas!

Eu mesma, na minha adolescência, juntamente com minha fiel companheira de farra, Michelle, quando queria dispensar um pentelho dava sempre o mesmo telefone. Ela também. Isso aconteceu durante anos. Lembro até hoje do número. Lembro também de uma vez que ligamos pro tal número só de curiosidade, pra ver o que acontecia. Fomos xingadas pra valer...

Tenho uma amiga que até hoje dá o número do antigo celular dela, que está desativado. E por aí vai...

Estou aqui admitindo que isso não é legal. Todas nós sabemos disso. Quem disse que somos perfeitas? Mas o fato de não conseguirmos dispensar os rapazes sem que os enganemos, também conta com a ajuda deles.

Se eles conseguirem lidar com o fato de serem rejeitados com mais naturalidade, talvez nós possamos conseguir ser menos sacanas.

Portanto rapazes, quando não quisermos dar nossos telefones, por favor, não insistam, ou podem acabar ligando pra padaria da esquina no dia seguinte. A ficada pode não ter sido tão boa assim e a garota pode não querer repeti-la e nem querer mais olhas na sua cara (assim como vocês). Ah! E mulher também gosta de sexo por sexo, uma noite e nada mais, sem querer ficar esperando por um telefonema no dia seguinte.

Juro que estamos tentando fazer um esforço sobre-humano para parar com essa mania. Mas vocês bem que podiam colaborar...

terça-feira, setembro 28, 2004

Homens-Polvo de Vênus e Mulheres-Tilápia de Marte

Outro dia eu estava assistindo a um episódio do Sex and the City no qual a Charllote tenta comprar um livro de auto-ajuda em uma livraria, mas se sente envergonhada e acaba encomendando o mesmo livro pela internet. Aí eu me lembrei de um livro que uma amiga muito querida recomendou que eu lesse. Acho que o nome era "Enquanto o Amor não Vem". Ou algo parecido. Eu ainda não li. Pode parecer besteira, mas eu ainda estou na fase da negação.

Não sou uma feminista de carteirinha. Sou a favor do ser humano, independentemente do sexo. Não gosto de pessoas que se depreciam, sejam homens ou mulheres. Mas também sei reconhecer as diferenças entre o universo feminino e o masculino. O fiel dessa balança? O respeito. Faltando esse respeito, começam a aparecer os mitos. E, de repente, coisas simples que fazíamos com os pés nas costas (algumas pessoas fazem com os pés no pescoço, com as mãos no lustre... muitas variações), como nos relacionar com alguém do sexo oposto, começam a exigir manuais. E aí aparecem os mitos. E os micos.

(Agora, tira as crianças da sala, que eu vou falar de sexo!)

Mito 1

Homens transam por tesão, mulheres só conseguem transar se houver envolvimento.

Você ainda acredita nisso? No coelhinho da Páscoa e em Papai Noel também? Peraí! Concedo o fato de que os homens têm um nível de excitação mais visual. É muito difícil (não impossível) você escutar que uma mulher está louca para transar com um cara que ela só está vendo por foto. Precisa haver todo um contexto, a figura precisa ser um mecânico, ou um bombeiro, ou um guarda, ou um médico, ou um stripper besuntado de óleo de amêndoas e... deixa para lá!

O fato é que o mito é verdadeiro. Mulheres só conseguem transar se houver um envolvimento. Só que esse envolvimento pode ser dela com ela mesma. Tipo "hoje estou a fim de dar uma". E o que os homens não entendem é que nós podemos sim aplicar a máxima do "lavou tá novo". Podemos sim ser cafajestes. Podemos transar e não querer mais ver a figura. Podemos gostar só do sexo e abominar a figura na "vida real". Podemos ter um "enorme carinho" e "não querer perder a amizade" da figura.

As coisas são muito mais simples do que pensamos. Vale sempre usar a sinceridade e a honestidade, coisas que, apesar de serem semelhantes, são bem diferentes.

Senão, daqui a pouco, vamos estar lendo livros com os seguintes títulos: "Como Abrir a Boca e Mastigar – Um Manual para a Alimentação Suave", "Um para dentro, Outro para fora – Aprenda a Respirar Brincando"...

terça-feira, setembro 21, 2004

Alô?

Nesse final de semana, Danuza Leão, em sua coluna na Folha de São Paulo, falou sobre um assunto mui conhecido na ala feminina: o efeito telefone.

Analisando a célebre frase: "Eu te ligo!", o que o texto realmente nos mostra é que somos todas iguais. Não é um clichê, é uma verdade: mulheres são todas iguais.

Ele diz que vai ligar. Levante a mão quem nunca sofreu horrores ao lado do telefone.

Levante a mão quem nunca tirou o fone do gancho 125 vezes pra ver se o dito estava mesmo funcionando.

Levante a mão quem nunca ficou na dúvida se deu mesmo o telefone certo.

Levante a mão quem nunca recusou programa com as amigas, cinema com a turma ou uma simples ida à padaria porque ele disse que ia ligar (tá bom, tá bom, eu sou do tempo que celular ainda não existia).

Levante a mão quem nunca tomou banho com a porta aberta ou com o celular em cima da pia do banheiro pra poder escutar quando ele tocar.

Levante a mão quem não tem uma amiga que liga, na hora em que você aguarda ansiosamente o telefonema dele, só pra perguntar se ele já ligou.

E quando o telefone finalmente toca, levante a mão quem nunca deixou tocar uma, duas, no máximo três vezes antes de atender, com a voz calma e um tom surpreso por ele ter te ligado.

Sim senhoras. Somos todas iguais.

Toca desgraçado, toca...

sexta-feira, setembro 17, 2004

Verdades

Minha mãe nunca me treinou para casar. Nunca me ensinou um ponto de bordado, nunca me deu um pano de prato para o meu enxoval. Sempre a ouvi dizer: "Vai estudar, trabalhar, viajar e, quando não tiver mais nada para fazer, pode até pensar em casar com alguém". É claro que qualquer terapeuta vai diagnosticar projeção. Era assim que ela queria a própria vida. E uma coisa que muitos homens não conseguem entender é que nós, mulheres, passamos a vida tentando agradar às mães. Por isso, fiz tudinho o que ela mandou. Estudei, trabalhei, viajei muito. É claro que intercalei tudo isso com uns amores caprichados. Alguns fracassaram, outros deram certo até onde tinham que dar, mas a maioria me fez bem. Os meus amores me ajudaram a ser a pessoa que sou hoje.

Hoje em dia, eu posso dizer, sem medo de parecer menos independente, que quero namorar alguém. Conversar, ir ao cinema, passear, falar besteira, beijar, fazer amor. Mas não acredito em príncipe encantado. E talvez seja por isso que o meu ainda não apareceu. E se os príncipes encantados forem que nem fadinhas: quando alguém diz que não acredita neles, um morre esturricado? Já matei um monte, sorry, meninas.

Mas eu não quero um príncipe, eu quero um Zé. Que Zé? Eu quero um Zé que nem o da Adélia Prado:

Para o Zé

Eu te amo, homem, hoje como toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor o peixe,
a mala velha, o papel de seda e os riscos de bordado,
onde tem o desenho cômico de um peixe —
os lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer te amo.
Teço as curvas, as mistas e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando as finuras, violoncelo, violino,
menestrel e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito pra escutar o que bate.
Eu te amo, homem, amo o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora, seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas perdidas nas casas que habitamos, os fios de tua barba. Esmero.
Pego tua mão, me afasto, viajo pra ter saudade, me calo,
falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível. Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor.
Você me espicaça como o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece, tira de mim o ar desnudo, me faz bonita de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega, me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando os panos, se alargando aquecido, dando a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Assim, te amo do modo mais natural, vero-romântico, homem meu, particular homem universal. Tudo que não é mulher está em ti, maravilha. Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos, a luz na cabeceira, o abajur de prata; como criada ama, vou te amar, o delicioso amor: com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso, me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles eu beijo.

O texto acima foi extraído do livro “Poesia Reunida”, Editora Siciliano – São Paulo, 1991, pág.99.

segunda-feira, setembro 13, 2004

O Efeito "White Pants"

Constatações em momentos de ócio...

Hoje eu estava à toa lá no fórum, esperando o horário de uma audiência começar. Enquanto isso, fiquei observando o vai-vem das pessoas na portaria principal.

Por causa dessa calor medonho que está fazendo, as mulheres que trabalham no fórum, as advogadas, estagiárias, promotoras, etc... estão desfilando modelitos um pouco fora do padrão ambiental do Tribunal de Justiça.

Basta de terninhos fechados, tailleurs calorentos, camisas de manga comprida. Um viva para as saias floridas, blusas decotadas e de alcinha e, principalmente, para a peça curinga da temporada: A CALÇA BRANCA.

É incrível o efeito que uma calça branca, justa e ligeiramente transparente (só a ponto de se perceber o contorno da underwear) tem sobre os nossos rapazes, não é?

Nem todas nós podemos usar uma calça branca nessa condições (eu tenho uma que está encostada no armário, esperando eu tomar jeito ou me desfazer dela), é preciso estar em certa forma, sem celulites marcantes ou excessos curvilíneos, mas quando vemos uma moçoila num corpitcho "tudo em cima", dentro de um modelito desses, basta parar um minutinho pra observar: os homens estremecem.

Não tem um que deixe de olhar. A gente também olha, claro, pra analisar a concorrência ou com aquela pontinha de inveja, ou mesmo pra tentar achar um defeitinho na "querida". Mas os homens babam.

Hipnotizados que ficam, presenciei alguns entrando no elevador errado, quase batendo com a cara na porta de vidro ou mesmo parados, inertes, no meio do hall de entrada, apreciando a beldade que passava.

Ah, queridos, como é fácil "embobecer" vocês...

quarta-feira, setembro 08, 2004

Primeiro Amor

Dizem que o primeiro amor de uma garota é seu pai. Filha e pai estão quase sempre grudados, num eterno complô, onde a mãe proíbe e o pai permite, cheios de segredos e agrados, coisas só deles dois. A princesa do papai, o orgulho nos 15 anos, a ranha com o primeiro namorado, a emoção de levar a filha noiva ao altar.

No meu caso foi bem diferente. Meus pais se separaram quando eu tinha 9 anos de idade e acho que meu pai não sabia lidar muito bem com uma filha mulher. Filho homem sim, serve pra ir ao clube, acompanhar na pelada ou assistir ao Mengão na TV.

Durante toda a minha vida a ausência de meu pai foi completamente normal pra mim. Reforçando essa ausência tinha uma mãe de personalidade fortíssima. Linha dura, repressora em vários momentos, escorpiana vingativa e radical. Uma mãe que eu sempre amei de paixão, incondicionalmente.

Minha mãe vivia reclamando pra quem quisesse ouvir a falta de atenção que meu pai tinha comigo. Plantou na minha cabeça a idéia de que ele fazia falta, mas que ao mesmo tempo ele era dispensável. Ela era mais uma boa mãe separada se esforçando pra criar os filhos.

Assim, aprendi a viver sem meu pai. Sem ouvir seus conselhos, sem pedir suas opiniões. Durante um bom tempo até me recusei a falar com ele. Cruzava com ele na rua e fingia que não conhecia. Se ele me fazia falta? Eu jurava que não. Mas certa e dolorosamente, sim.

Quando me separei de meu marido, há quase dois anos, sofri uma grande perda: minha mãe parou de falar comigo. Ela sempre foi meu apoio, meu esteio, a seta que apontava minhas direções. E quando eu estava perdida, sem saber direito o que fazer, foi meu pai quem apareceu no meu caminho.

Sem fazer perguntas, sem proferir julgamentos, sem me indicar soluções ou caminhos. Apenas me estendendo a mão e dizendo que, por onde eu escolhesse caminhar, ele estaria ao meu lado.

Desse tempo todo pra cá, descobri meu pai. Acabei entendendo que, durante um bom tempo, ele estava ao meu lado. Mas estava quietinho, observando. Talvez com medo, porque eu e minha mãe não deixáramos vago o lugar que ele ocupava. Talvez acomodado, porque eu estava indo bem, mesmo sem ele.

Mas na primeira oportunidade surgida, ele não deixou a chance escapar. Agarrou com todas as forças e me puxou de volta pra ele. Aos quase 30 anos eu descobri meu pai.

Descobri que debaixo daquele jeito ranzinza tem um cara bem-humorado. Como eu.

Descobri que ele grita, berra e esperneia, mas dali a 5 minutos tudo está bem novamente. Como eu.

Descobri que ele é muito sem paciência com crianças, mas adora todas as que fazem parte da família. Como eu.

Descobri que se pode contar tudo pra ele (quase tudo né?). Só não mentiras. Como eu.

Descobri que ele pode não ter sido meu primeiro amor... Mas pode ser meu amor para sempre.